Hoje em dia existem mais de 300 teorias sobre o envelhecimento, um pontapé numa pedra e aparece uma nova teoria, mas nenhuma explica plenamente as alterações observadas.
E talvez faça sentido começar por aqui: o que é o envelhecimento?
Biologicamente, o envelhecimento resulta do impacto da acumulação, ao longo do tempo, de danos celulares e moleculares que originam diminuição da capacidade física e mental, propensão para doença e, claro está, morte.
Alguns factores envolvidos no envelhecimento são:
- Encurtamento dos telómeros: o nome diz tudo sobre este fenómeno que ocorre ao nível dos cromossomas;
- Idade cronológica: os factores de risco aumentam com o tempo;
- Stress oxidativo: este é um conceito mais complexo - consiste no desequilíbrio entre a produção de espécies reactivas de oxigénio e a sua desintoxicação através de sistemas biológicos que as removam ou reparem os danos por elas causados (como lesões ao nível do DNA, proteínas e lípidos). As espécies reactivas de oxigénio ou radicais livres, fica já explicado, são ligações de oxigénio agressivas, verdadeiramente hiperactivas! Todos conhecemos a fórmula O2, a ligação estável de dois átomos de oxigénio. Aquando a ocorrência de uma queimadura solar, quando se fuma, durante a prática de desporto, quando se está sujeito a stress e no decurso dos processos de envelhecimento, vão-se formando radicais de oxigénio isolados (O-) cujo braço livre - que devia estar abraçado a outro átomo de oxigénio - procura sempre alguma coisa para se agarrar e, infelizmente, tem a lamentável inclinação para os tecidos e para o material genético. Esta ligação nociva implica dano ao nível dos tecidos e consequente envelhecimento;
- Gliacação: ligação de açúcares que provocam inibição do DNA, proteínas e lípidos. Os produtos finais desta interação denominam-se AGEs e é sobre estes que me vou alongar neste post.
Portanto, o que são AGEs? Advanced Glycolation End Products. Sim, vamos trocar isto por miúdos.
Consistem nos produtos finais da interação de açúcares com proteínas e esta interação denomina-se reação de Maillard. Esta é muito comum ocorrer quando se cozinha, é o que confere a cor dourada aos assados por exemplo.
Podem ser formados via endógena, através do metabolismo/envelhecimento normal, ou exógena, através da radiação, fumo, ingestão de alimentos sujeitos a altas temperaturas e outros como carnes, óleos e azeites. Estão na base de muitas patologias crónicas (altamente acumulados por diabéticos).
E o que interessa isto ao nível da pele e do envelhecimento cutâneo, estarão vocês a perguntar. Preocupam-se com o vosso aspecto, com o processo de envelhecimento? Não querem tornar-se ao longo da vida umas encorrilhadas/os com tudo a abanar? Então atentem.
Os efeitos da glicação na pele são preocupantes porque desencadeiam stress oxidativo e inflamação. Para além disso, provocam endurecimento e degradação dos tecidos de suporte, o que se traduz em danos ao nível das fibras dérmicas como o colagénio e a elastina (que como se sabe são elementos chave para a juventude da pele), provocando, então, diminuição da elasticidade e tonicidade da pele e daí, claro está, rugas. Mais, a acumulação de AGEs depende do ritmo de turn over das proteínas, o que quer dizer que proteínas com tempo de vida prolongado poderão mais facilmente ser alteradas através do processo de glicação, como é o caso do colagénio I e IV. A cereja no topo do bolo é que, por este ser um processo de glicação é irreversível, não sendo, pois, possível reverter a formação de AGEs.
Apesar de não ser possível a reversão da formação destes produtos, é possível evitar que se formem. Ou pelo menos tentar que se formem menos, numa visão bastante mais realista.
Antioxidantes como polifenóis, carotenóides e vitamina E combatem o stress oxidativo, competidores pelo radical amina também são úteis, como é o caso da carnosina e esquecer os métodos de cozinha ocidentais! Grelhados, assados e fritos são métodos que usam calor seco durante muito tempo, ambiente perfeito para a formação de AGEs (promove 10 a 100 vezes a sua formação!!!!). A solução é cozinhar a vapor durante curtos períodos de tempo - aqui quem tem Bimby está em vantagem - e ingerir inibidores naturais de AGEs como lima, maçã, morango, gengibre, brócolos, alecrim, especiarias e, levantemos as mãos para o céu, a lista é bastante extensa.
Todos envelhecemos e não há motivo para ser assustador, mas certos cuidados só fazem bem em todos os sentidos. Estes são alguns deles.
Espero que tenham gostado.
J.
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